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O ensino de Filosofia: propostas para seu ensino
SANTOS, Rodrigo Barboza dos. Filosofia do Ensino de Filosofia: propostas metodológicas para o
ensino de Filosofia. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017.
O problema do ensino de Filosofia no Ensino Médio: sua natureza, seus
contornos teóricos, problemas e algumas reflexões acerca do seu ensino são
alguns dos aspectos que levaram Rodrigo Santos à realização da pesquisa que
culminou com a obra aqui resenhada. Santos (2017) relaciona-se com tal problema
desde sua experiência como professor no Ensino Médio e foi ela quem determinou sua
inquietude com o ensino de Filosofia. Tal inquietação motiva a sua pesquisa
desde a graduação, pois Santos (2017) entende o ensino de Filosofia como um
problema efetivamente filosófico, páreo a tantos discutidos na tradição
filosófica, apesar de constatar haver uma omissão na reflexão destes nos textos
e autores dentro da própria Filosofia, em virtude, dentre outras, das
divergências quanto à natureza de tal problema: pedagógico, didático,
filosófico?
Em busca de uma resposta e inserido na tradição filosófica da
hermenêutica - enquanto interessada na interpretação dos significados adjuntos ao
entendimento e as implicações destes em um escrito -, Santos (2017) parte em
busca da compreensão dos sentidos que os textos apresentam para o Ensino de
Filosofia em um contexto no qual se entende possível tal ensino. Dessa maneira,
os textos postos em comparação demonstram que o contexto de escrita da obra
permite à Filosofia ser pensada como disciplina da Educação básica, sem a perda
da sua identidade. Afinal, como parte singular do conhecimento humano, não
poderia a Filosofia ser mantida distante das pessoas, portanto, não poderia
estar longe da Escola.
Com essa
compreensão, Santos (2017) organiza seu livro em quatro capítulos, precedido
pela Introdução e encerrado com as considerações finais. O autor seleciona os
trabalhos de Alejandro Cerletti, Lídia Maria Rodrigo e Sílvio Gallo e, por meio
da análise de suas obras, discute o que é o ensino de Filosofia. Justifica que
a escolha dos autores se deu em virtude do primeiro estar consagrado como
referencial obrigatório dos assuntos de Ensino de Filosofia de maneira mais
global e de que os dois últimos são importantes referenciais do tema no Brasil.
No primeiro
capítulo é analisada “A concepção de Ensino de Filosofia para Alejandro
Cerletti”. São apresentadas as ideias do argentino discutidas no livro O ensino de Filosofia como problema
filosófico, resultado de sua tese de doutorado. A análise leva em
consideração três categorias principais: a definição da Filosofia como problema
filosófico; do entendimento do que ela seja (da sua natureza) e do “quê”
configure seu ensino. Essas categorias são empregadas na análise das obras de
Rodrigo e Gallo, nos capítulos seguintes.
Começando
pela análise da obra de Rodrigo (2009), já no segundo capítulo de seu livro, o
autor aponta que esta é publicada imediatamente após o retorno da Filosofia
para o currículo do Ensino Médio por força da lei federal n° 11.684/2008. Santos
(2017) destaca a preocupação de Maria Rodrigo com o que ela classifica de
“banalização da filosofia”, mas não somente, uma vez que a autora oferece
caminhos à superação desse risco a que a Filosofia está submetida pelo modo
como ela retorna ao currículo.
Outro
destaque na obra de Maria Rodrigo, apontado por Santos (2017), consiste em sua
classificação dos estudiosos de Filosofia em níveis que vão dos Clássicos da
Filosofia (“filósofos originais”), passando pelos especialistas (acadêmicos e
professores de Filosofia), pelos estudantes de Filosofia (que almejam
tornarem-se especialistas) até o aluno do Ensino Médio, que parte do zero e
deseja saber algo sobre a Filosofia, sem necessariamente ansiar por uma
especialização nessa área de conhecimento.
O terceiro
capítulo é dedicado ao estudo da obra de Gallo. Segundo Santos (2017), é
possível destacar os seguintes elementos acerca da discussão do ensino de
Filosofia efetuada por este autor: a necessidade de o professor ter claro para
si a concepção de Filosofia com a qual se identifica e que influencia o seu
modo de ensino; a importância de dar ciência aos estudantes dessa concepção, permitindo
que as demais visões conceituais de Filosofia estejam presentes; a indicação do
conceito como objeto caro ao processo de filosofar tanto quanto ao de ensinar a
filosofar.
Já no IV
capítulo, quando se apresentam as distinções marcantes entre as obras de Gallo
e Certelli, Santos (2017) reafirma a aproximação entre os autores, ao tempo em que
afirma ser esse ponto o centro da discordância entre ambos: para Gallo, a
Filosofia pode ser identificada como a “criação de conceitos”; já para Certelli,
seria um “processo reflexivo de problematização”. Isso implica que o primeiro
aponte o ato de conceituar como centro do filosofar, enquanto o segundo, apesar
de reconhecer a importância do conceito, trata a problematização como pedra
angular do ensino dessa disciplina.
Concordamos
quanto ao tema central do livro de Santos (2017): o ensino de Filosofia é um
problema filosófico, uma vez que não pode desconsiderar a História, os clássicos,
os argumentos, conceitos e perspectivas desenvolvidos pelos mais diversos
filósofos, ao tempo que também não se pode encerrar a disciplina nesses
aspectos.
O que não se
pode perder de vistas é uma constante reflexão filosófica - portanto
desapressada, aprofundada, e não definitiva - das práticas de Ensino de
Filosofia que certamente devem ser observadas em todas as esferas, das
institucionais com as definições legais (LDB, DCN, BNCC, dentre outros), até o
cotidiano em sala de aula. Além disso, não se imagina que esse processo possa
ocorrer longe dos professores e pesquisadores de Filosofia, Ensino de Filosofia
e Filosofia da Educação.
Nas
considerações finais Santos (2017) deixa o entendimento, ainda que bastante
implícito, de que apenas a modificação das práticas dos professores será capaz
de tornar o Ensino de Filosofia mais filosófico, o que incorre no equívoco de
reprodução do discurso de culpabilização do docente quase como único fator dos
fracassos que podem ocorrer no campo da Educação.
Cabe, por
fim, demarcar a importância do esforço hermenêutico na obra, tanto pela revisão
conceitual e comparativa realizada por meio da análise da produção de três
grandes pesquisadores contemporâneos do ensino de Filosofia, de modo a
subsidiar e encaminhar muitos problemas das práticas educativas dessa
disciplina, quanto - talvez de modo mais urgente pelo contexto atual da
Educação no Brasil - pela afirmação do papel que a Filosofia desempenha no
desenvolvimento educacional dos estudantes.
Por isso,
lembramos: a Filosofia só esteve fora do currículo da escola quando a
controvérsia, a diversidade e o diálogo dela foram expulsas. Não sendo o saber
filosófico útil (no sentido mercadológico) aos interesses imediatos dos que
hegemonizam na condução do país, uma vez que a Filosofia não prescreve receitas
prontas, nem aceita a repetição uníssona - mas as indaga - ameaça-se a retirada
do seu parco espaço em detrimento de saberes mais pragmáticos.
Confira a publicação original desta resenha AQUI.
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