Junho já vai chegando ao fim
June 2020 - Calendar. Isolated on White Background. 3D Illustration
Fica abaixo um aperitivo, o texto
que fiz para apresentação do Folheto.
EXISTIR NO AGORA
Kleber Chaves
(Apoena, V01, N03, Junho/2020)
Quando esse cenário de pandemia se afirmou, no mês de março, as especulações davam conta de que em junho o pior já teria passado, a ponto de, desde lá (março), ficarem comuns expressões como “o novo normal”, “o pós-pandemia”, “mundo pós-pandemia”.
Sabe o que parece ter acontecido? Muitos estiveram tão preocupados com o futuro, tão entregues a encontrar soluções para o futuro, que as urgências daquele presente, lá, no mês de março, ficaram esquecidas.
O aparente resultado disso tudo? Quando não se cuida do presente, não
adianta planejar o futuro, já que o mesmo só se faz no AGORA. Na verdade, o
único tempo que possuímos é esse, o presente. O futuro ainda não existe e
depende, para existir, de que passemos pelo agora.
Existem duas maneiras de passarmos por esse angustiante momento presente.
Encarando-o com profundidade e mergulhando “de cabeça” nele, ou tentando
“empurrar com a barriga” e “fazer de conta” que não é com a gente.
Dê uma olhada ao seu redor e tente descobrir qual opção está sendo
feita...
Pois bem, chegamos e o futurístico junho já está virando passado. Com ele
ficam as marcas de acontecimentos que tornaram tudo mais trágico. Entre tantas
vidas perdidas, o menino Miguel Otávio, que associamos a outras mortes (em
maio) como a do também menino João Pedro e a de George Floyd.
A existência é trágica por vida. Nós inventamos saídas pela Filosofia,
Arte, Ciência, Religião (...) para lidarmos com isso. Mas não podemos, no Brasil,
seguir omissos quanto a outra parte da realidade: o racismo estrutura as
relações e torna a existência dos negros para além de trágica, cruel, pois a
cor da pele segue determinando as relações, (re)criando dificuldades e
opressões. Por isso, pintamos de preto todos os quadros de destaque desta
edição. A cor daqueles que se tenta omitir, negando tanto as suas existências
como os problemas (extras) que a cor da pele os faz enfrentar por uma
conjuntura que os quer apagados, sobretudo dos lugares de destaque.
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